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O protesto da LED no SPFW

O protesto da LED no SPFW
Junho foi um mês importante para lembrar que cada um nesse mundão possui suas diferenças e particularidades que são, sim, motivos para se orgulhar. Ainda precisamos evoluir muito como sociedade para que seja apenas um momento de celebração, porque ainda temos muito pelo que lutar

E nessa caminhada, existem marcas que usam a moda como forma de protesto, como é o caso da LED – comandada por Célio Dias e que desenvolve roupas como manifestação estética e de resistência. Para finalizar esse mês, eu vim falar dessa marca que tem tudo a ver com orgulho, resistência e claro – moda. 

Célio utiliza as roupas como uma fórmula certa para se manifestar de diversas maneiras. A começar pelo caráter agênero que o estilista consegue proporcionar com maior visibilidade. Ele também utiliza técnicas artesanais, estampas manuais e tingimento natural para dar vida às suas criações. Mas vejo que Célio se destaca de outras marcas pelo caráter político que suas roupas estampam.

“Bicha Pwr”, “Abaixo o macho astral”, “Viados Mascarados” são algumas das frases que o estilista já estampou em suas camisetas, acompanhadas por manifestos nas redes sociais. Um grito pela importância do protesto, que inclusive, teve que dobrar de importância com a pandemia, visto que a marca fez campanhas ferrenhas de conscientização para todo mundo ficar em casa. 

Para esse mês do Orgulho, as novas camisetas de Célio são ponte para apoiar um espaço que acolhe mulheres trans e travestis através da moda. O Coletivo Trans Sol foi criado para ajudar essas mulheres a entrar no mercado de trabalho por meio da costura. A venda das camisetas estampadas, desenvolvidas em parceria com o artista visual João Vitor Lage, são revertidas para o Coletivo. Caso se interesse, confira aqui

Nesse mês ainda aconteceu o SPFW e a LED apresentou sua nova coleção pela segunda vez consecutiva no evento 100% online e em parceria com a Texprima. Em uma vibe que transmite o desejo coletivo de aglomerar novamente, Célio convidou Bibi Caetano, Alice Caymmi, Davi Sabbag e Dani Vieira para o fashion fillm. “Casa LED” foi transmitida no último dia 26 e trouxe uma mistura de tudo: de bases, estampas, pessoas e trilhas sonoras.

As roupas da coleção carregam elementos característicos da marca, com a presença do crochê, cores vibrantes, shapes que priorizam o conforto e estampas exclusivas que foram desenvolvidas de forma colaborativa com o designer João Vitor Lage. O estilista utilizou os tecidos Crepe Miu Miu e Crepe Chanel, geralmente usados em propostas de alfaiataria clássica, para modelagens despojadas que trazem o espírito jovem e descolado da LED. 

O estilista encontrou nos tecidos um caimento perfeito para conjuntos, macacões amplos e camisas oversized. As duas bases possuem viscose na composição, tornando-as ideais para utilizar a estamparia. A diferença entre elas é que o Miu Miu traz um toque mais áspero e sua composição mistura o elastano, que proporciona maior conforto. Já o Chanel, 100% viscose, possui uma superfície mais delicada e com mais brilho. Mas ambas entregam um efeito bem marcante com as estampas.

nclusive, as padronagens exclusivas desta coleção, imprimidas nos crepes, caminham junto com o sentimento de otimismo que a moda vem manifestando, combinando um mix de cores energizantes e desenhos lúdicos que trazem referências brasileiras, como a mula-sem-cabeça, a capivara e outros animais da nossa fauna. Toda essa combinação trouxe um resultado esteticamente satisfatório e que dá muita vontade de vestir e ficar chique em casa. Célio abriu novas possibilidades de uso para esses tecidos, de uma forma mais fun.

E é claro que na Casa de Célio Dias não poderia faltar o seu protesto. O estilista usou as frases “um LGBTQIA+ para presidente do brasil.” e novamente o “abaixo ao macho astral” para estampar camisetas e cangas da coleção. Ao fim do filme vem em destaque: “vacinação, afeto e futuro.” É o que todos almejam, mas poucos se manifestam com afinco.

A LED define bem o que é a moda para mim. É ser fashion, mas com consciência ambiental, política e social. Tem coisa mais cafona do que não se posicionar?

Aproveitei a data para convidar minhe amigue Thayan Venturini (@thayanventurini) designer da @texprima, para falar sobre a importância do Mês do Orgulho em sua vida. 

Vem ler:

AS DIFERENÇAS COMO PONTES

por Thay Venturini

No mês do orgulho LGBTQIAP+, mais do que uma comemoração para usarmos camisas de arco-íris e as outras bandeiras da comunidade, é um momento de posicionamento político, da luta pela existência e resistência, por amar e para existir.  Os padrões de comportamento, modos de amar e de se expressar no mundo são ditos como certo sendo hétero, cis e podemos completar com branco. Somos cercados pela heteronormatividade e heterossexualidade compulsória, e tudo que desvia desse padrão é visto pelo viés da diferença.

Seria perfeito acreditar que somos todes iguais, mas na realidade somos mais diferentes do que imaginamos. 28 de junho é quando toda essa diferença é comemorada junta. Cada letra da sigla traz a sua demanda e com características muito específicas, lutando contra todos os preconceitos e violências a que somos expostos. Essa é uma data política e se posicionar é fundamental para que possamos existir, afinal se ninguém falar, não existe.

Fato é que precisamos estar aliados à diversidade e às diferenças, e dentro disso, fazer outros recortes como raça e classe. A busca pela equidade é uma luta política que não se faz só, por isso essa data é importante para nos lembrar aquilo que nos une, aquilo que acreditamos ser o país das maravilhas que buscamos. Usar a diferença para criar pontes de acesso a cada universo que é cada pessoa é fundamental para transbordar ideias fixas e caricatas do que é ser uma pessoa LGBTQIAP+, para ir além de rótulos e usá-los de forma política para resgatar a dignidade e o orgulho de ser e amar quem se é. 

por Luana Moura, redatora da Texprima

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