Cunha está localizada entre São Paulo e Rio de Janeiro. Os quilômetros que separam as cidades guardam um local especial para quem busca um artigo escasso das metrópoles: o tempo. E, com esse tempo, a cidade consegue produzir seu maior produto – que se tornou fonte de inspiração para a equipe de estamparia neste Verão 19: a cerâmica.
Na década de 1970, um grupo de ceramistas, formado por seis jovens, considerou essas condições favoráveis e se instalou na cidade compartilhando seus trabalhos e dando forma aos seus sonhos através da arte. Toshiyuki, Mieko Ukeseki, Alberto Cidraes, Rubi Iamanishi e os irmãos Vicco e Toninho Cordeiro foram os responsáveis pelo início de um dos maiores polos de cerâmica do Brasil.
Hoje Cunha conta com mais de 20 ateliês, que misturam técnicas, inspirações, segmentos e influências extremamente particulares. Apesar de ser uma produção artística passada de geração em geração, a diversidade cultural permite que cada artista imprima em suas peças características únicas, que podem variar também pelo uso de diferentes argilas, tipos de queima, múltiplas formas de modelagem e os esmaltes que finalizam as artes.
Durante as visitas aos ateliês, é possível entender um pouco mais sobre as particularidades de cada um em conversas intimistas com os funcionários – que, diga-se de passagem, não escondem o brilho nos olhos ao falarem de suas criações e explicam com atenção cada etapa do processo – e se encantar ainda mais com o resultado final exposto nas prateleiras.
A liberdade criativa está diretamente ligada ao fator tempo. Sim, o tempo que pode variar entre minutos, horas, dias e meses influencia também no resultado da arte. A ansiedade da cidade grande não pode se misturar a calmaria exigida pelas etapas de produção da cerâmica. A escolha da argila, a modelagem, os engobes e esmaltes e a queima são determinantes no que irá ser feito, por isso é necessário paciência com cada detalhe. Douglas Sobrinho, funcionário do ateliê Aldea, explica que esse tempo é necessário inclusive para novas descobertas. “Nós gostamos de testar novos esmaltes, por exemplo. E até mesmo a mistura deles pode resultar em cores desconhecidas até mesmo por quem já trabalha com isso há anos. É o caso de várias peças expostas aqui”, conta.
Apenas apreciar as cerâmicas de Cunha não é o bastante para quem busca inspirações. Seus artesãos guardam técnicas tão preciosas que cada ateliê merece um verdadeiro tour, com direito a conhecer os diversos fornos espalhados pela cidade e, principalmente, as histórias por trás de cada criação.
Ficou com vontade de passar um dia passeando entre os ateliês? Anote aí os indispensáveis no roteiro:
Ateliê Mieko e Mário:
– Endereço: Rua Gerônimo Mariano Leite, 510, Vila Rica, Cunha, São Paulo.
Ateliê de Cerâmica Flávia Santoro:
– Endereço: Rodovia Paulo Virgínio, Km 61,5 – Sítio Samadhi, Cunha, São Paulo.
Ateliê Suenaga
– Endereço: Rua Dr. Paulo Jarbas da Silva, 150 – Mantiqueira