Quem acompanha a gente, sabe: a Another Place é uma marca parceira da LOF que já desenvolveu muitas produções de sucesso com os nossos tecidos. Com o primeiro lançamento de 2020, Rafael Nascimento traz novidades alimentando a ligação entre a moda e o universo digital. “Transe” foi apresentada na página da marca no Instagram utilizando um recurso da rede chamado Reels.
Os nove looks que compõem a coleção foram desenvolvidos em um formato 3D que o próprio Rafael procurou aprender sozinho. E a gente trocou uma ideia pra entender melhor como foi o processo de criação e desenvolvimento com softwares que ele, até então, não tinha experiência. Ver ver:
Luana: A coleção foi desenvolvida durante a quarentena, certo? Como foi o processo de criação das peças?
Rafa: Sim, foi um processo todo durante a quarentena. Algumas peças foram resgatadas de desenhos que a gente já tinha feito antes e não tinha entrado em coleção, tinham algumas peças que eram do desfile do SPFW, então foi uma remexida em tudo que a gente já tinha criado com coisas que surgiram novas, mas que se adaptaram pra fazer sentido nesse momento, nesse formato. A ideia era não criar uma coleção muito extensa por causa do momento, então a gente concentrou em fazer peças mais pensadas, que fossem mais úteis, mais atemporais, do que criar um número muito grande de peças. A gente achou que não fazia sentido por conta de tudo que tá acontecendo.
Luana: Como foi a escolha dos tecidos? Tem alguma novidade?
Rafa: De início, a gente resolveu, por facilidade, usar tecidos que a gente já tinha usado porque era mais fácil criar sem ter que ir de fato na loja, acompanhar, ter esse contato com as pessoas pra fazer essa escolha de tecidos novos. Com a LOF, acabei conversando com a Bruna e ela me passou que tinha tecidos novos, como os refletivos, que a gente usou nos detalhes das peças. Mas para bases inteiras a gente usou tecidos que a gente já conhecia o caimento, já entendia muito bem do tecido pra facilitar mesmo esse processo de criação e produção, porque isso deixou várias saídas de casa pra resolver. E dentro dos tecidos que a gente acabou selecionando, acabamos escolhendo os que eram mais atemporais e de maior qualidade. Mais da metade da coleção é em algodão nacional e as peças carro chefe são os moletons e as regatas que são feitas com o Moletom Cotton BR e a Malha Canelada BR.
Luana: Qual é a relação do nome da coleção – Transe – com o momento que estamos vivendo?
Rafa: Transe é um estado de espírito que a gente chamou pensando nesse momento de quando tudo passar, quando tiver vacina, quando a doença estiver 100% controlada e a gente sair na rua de novo, se encontrar, eu acho que vai ter esse momento de euforia, de realização muito grande, por isso que vem esse “transe”. Então a gente veio dessa ideia, desse sonho, desse idealismo e foi criando as coisas a partir daí.
Luana: Conta um pouco do processo de styling e da estamparia que foi feito em conjunto com o Michael Vendola e Gabriel de Azevedo. Teve algum pensamento específico e/ou especial para a criação?
Rafa: Todo o processo foi feito online até porque Michael tá nos Estados Unidos, porque ele é americano, e Gabriel fez a estampa daqui. O styling é muito pensado e montado pra esse momento de volta e a estampa traz essa coisa mais psicodélica quase, que é referente a esse momento de transe. Mas as peças não são 100% pensadas pra você só sair, só viver a vida. As peças funcionam muito bem dentro de casa quanto pra esse momento, que a gente espera que seja logo. Mas elas não foram pensada só para o pós quarentena não, foi pensado nessas peças mais chaves que você consegue usar em vários momentos.
UM NOVO FORMATO
Luana: Esse formato tridimensional já era uma vontade? Como surgiu a ideia?
Rafa: O 3D não era uma ideia, surgiu como consequência do processo. Então eu comecei a criar em 3D, estudar, pesquisar, mais pelo formato da quarentena mesmo, e aí com isso, vendo o resultado disso, foi que eu tive a ideia e a vontade de apresentar em 3D. Mas não foi uma ideia “ah, vamos fazer um desfile em 3D”, entendeu? Surgiu muito mais no processo.
Luana: Como foi a construção do cenário e dos avatares?
Rafa: A roupa foi a primeira coisa que eu criei, foi tudo no CLO3D, e aí depois eu comecei a entender e a pesquisar como de fato dar vida, fazer os modelos e a animação. Eu tive uma ajuda do Rodrigo Carvalho que foi quem me ajudou a fazer toda a parte de cenário e iluminação, porque eu já não tava conseguindo absorver tudo até pra data de lançamento. Então eu fiquei fazendo todos os modelos, as animações e as roupas, e ele tava em paralelo construindo o cenário e a iluminação e depois a gente juntou tudo e começou a renderizar. Um processo assim, bem complexo, porque são várias etapas, que de fato você tem que criar tudo meio que do zero. Para os modelos a gente usou algumas bases e trabalhou características e detalhes em cima, mas a gente já tava usando umas bases humanas, o que facilitou bastante o processo.
Luana: Pergunta clichê: qual foi o maior desafio nesse processo?
Rafa: O maior desafio nesse processo todo foi… ah, eu não sabia fazer, né? Então foi um processo de descoberta e de caçar tutorial. Tem coisas que você quer fazer e que você não sabe qual seria a técnica certa, então descobrir isso, desvendar isso, acho que foi o mais difícil e o que mais gastou tempo. Porque quando você pega e entende como faz o primeiro, os outros são muito mais rápidos, porque você já sabe exatamente o que fazer. Mas acho que sem dúvida essa foi a parte mais difícil.
Luana: Como vai ser essa segunda etapa de lançamento, que envolve mais um videoclipe com trilha sonora exclusiva?
Rafa: A segunda parte é uma música, que vai demorar um pouquinho pra entrar ainda, porque tem um conteúdo ainda pra sair das roupas em si…. que eu não posso contar muito! Mas tem umas coisinhas ainda pra sair das peças em específico e esse vídeo/clipe vai ser já no final dessa comunicação, então ele vai fechar tudo.
Luana: Pra finalizar: como você vê o futuro da Another Place partindo desse lançamento inédito? Acredita que a moda vai andar lado a lado com a tecnologia independente com a volta da “normalidade” quando a vacina existir?
Rafa: Alguém me perguntou esses dias “ah, vocês vão fazer esse formato pra sempre?” aí eu falei “olha, pra sempre é uma coisa que tá meio difícil…”. A gente não tem certeza nenhuma do futuro. Mas eu acredito que o digital vai acabar ajudando muito a gente nesse processo porque facilita muito as coisas. Criar no digital antes de fato produzir, evita desperdício, tem a praticidade, enfim, você consegue visualizar a coisa muito mais rápido do que todo o processo de comprar tecido, comprar aviamento, e corte, costura… você acaba otimizando no 3D. Então isso é uma coisa que vai ajudar bastante daqui pra frente, mas eu acho que não é um formato de apresentação que fica pra sempre. Talvez tenha algumas coisas nesse mesmo formato mais pra frente mas acho que não é uma coisa que vá substituir o desfile, o físico. É uma nova ferramenta, que já tava disponível aí, e a pandemia acelerou esse processo. Mas acho que eu vejo o 3D mais como uma ferramenta, mais uma forma, mas não como a principal e única.